Montag, April 17, 2006

desconstrução. da teoria à prática

0.47

Posicionava-me ainda, com todo o vagar, para, profissionalmente, iniciar o meu segundo sono (portanto, principiaria a tarde, julgo eu) quando aberrantes raios de luz natural e batidas secas me cortaram a respiração. A entidade parental já me tinha avisado. Eu é que me tinha esquecido. Assunto: o meu escritório precisava de retoques, pinturas e outras pieguices.

A coisa era delicada, e ao passar da névoa da noite para as impurezas que cada feixe solar sustenta já toda a civilização ocidental, de Parménides a Deleuze, estava por terra. Nem Artaud conseguiria descrever a visão. Contive-me. Que remédio.

Para uma pessoa como o meu pai tudo aquilo era completamente normal. Tudo aquilo são livros, "papéis pintados com tinta", que, se não os transportarmos para a vida nada valem. Sempre foi assim, aliás, a praxis antecede a theoria. Paternal e ontologicamente. Fico agora a pensar se alguma vez terá lido Levi-Strauss. Bom, não interessa. O que é certo e sabido é essa muito nossa divergência primordial. Por exemplo, em teatro, ele diz Brecht, eu digo Beckett. E não há volta a dar.

Segundo ele, amanhã ao fim do dia as coordenadas do meu mundo reencontram-se com o meridiano da bela passividade de quem faz teoria. A ver vamos. Até lá tenho o cânone da Literatura Ocidental aos meus pés. Literalmente, claro.