Dienstag, Juni 27, 2006

metabloguismo (e o "pathos" do fragmento)

0.96

Num texto excelente, de clareza e intuição, Pacheco Pereira (P.P.) faz como que uma arqueologia da escrita blogosférica citando o pathos do fragmento em autores como Nietzsche, Valéry, Cioran e Camus.

De facto, a proximidade de uma escrita inexoravelmente marcada pelo tempo é estonteante. No entanto, parece-me, sendo eu leitor atento de todos os escribas que P.P. chama para junto de si para termo de comparação neste ardiloso exercício, que entre o citado "post curto" da contemporaneidade blogosférica e os aforismos de Nietzsche ou Cioran, os diários de Camus ou mesmo o mouvement de la pensée dos Cahiers de Valéry existe uma diferença operatória, a saber, nunca os segundos têm como é constitutivo do primeiro o fantasma do presente como módulo de tempo ideal de leitura. Justamente, em casos em que isso é mais patente como em Nietzsche e Valéry (e até o fabuloso Quignard), a "exigência fragmentária" (Blanchot) advém da tentativa de fuga a esse estabelecimento do tempo a partir do presente, pedra de toque dos maiores empreendimentos intelectuais no séc. XX, fossem eles filosóficos ou literários (outra bela questão que estes casos paradigmáticos ajudam a aprofundar e complexificar).

É, então, como se a arqueologia feita por P.P. estivesse, paradoxalmente, na vanguarda dos blogues, já que continuou (é uma velha e subterrânea linhagem) a perfuração de um espaço fora do esquema representacional da metafísica clássica, ao mesmo tempo que investiga as possibilidades de constituição desse mesmo espaço.