Dienstag, Juli 03, 2007

Este Verão vou meter o Cervantes num bolso

0.172


Alguns amigos sabem bem a dimensão do meu fetichismo pelo objecto livro. Outros, não necessariamente os mesmos, ouvem-me, pacientemente, há muito tempo, sobre o sintoma que é a cultura de bolso não se estabelecer (ou vingar, veja-se o caso da tentativa da D. Quixote) no nosso país. Este sintoma revela um fosso (e, bem vistas as coisas, guardiões desse fosso).
A ideia não é nova, e foi exposta e desenvolvida pelo subtil e sagaz Hubert Damisch nos idos de 70. A ruptura de que fala Damisch nunca se deu em Portugal, nunca preencheu o fosso entre haute culture e a vida, nunca se cortou com a transcendência do que o próprio objecto parece vincular, em suma, nunca se tornou imanente à vida das pessoas.
Agora, três editoras (Relógio d'Água, Assírio&Alvim e Cotovia) juntam-se para tentarem cobrir esse fosso, insuflar-lhe vida. Começam com a prata da casa, o que, tendo os catálogos que têm, não é nada mau. E era tão bom os livros ganharem vida, e as pessoas sonharem com eles.