Dienstag, Juli 11, 2006

Vila do Conde, capital da arte cinemática

0.101.2





Domingo: Num espaço de curtas, este dia foi totalmente preenchido por longas. E que longas.
Primeiro a opção acertada da organização de começar o Domingo às 16h. A noite no [-3] não foi fácil, se assim o podemos dizer. Depois, começar com Fascination de Mike Hoolboom, fazendo o Sábado continuar num Domingo solarengo à beira rio. O próprio Hoolboom caracterizou este filme como um "metabiopic", exercício próximo do documentário sobre Colin Campbell, pioneiro da vídeo-arte e ícone da comunidade drag. A dada altura recordei-me de Nan Goldin, não deve ter sido por acaso. Este filme retrata uma época de efervescência artística na vida de Campbell e traça linhas de compreensão daquilo que muito mais tarde viria a tornar-se essencial: Guerra Fria, televisão, memórias do séc. XX, ruínas. Subversão.

Seguidamente passaria A Perfect Day da dupla libanesa Khalil Joreige e Joana Hadjithomas. Filme de tensão, tensional, que começa como se acabássemos de fazer 200 metros de respiração ofegante. Depois de 15 anos do desaparecimento de um homem ele é dado como morto. Aceitação de um fim, fechamento de uma porta. Recomeço. Sobre cinzas.

Parece-me, que são gulosos, Aliás, como eu. Ando sempre com falta de açúcar. E, portanto, estrategicamente, guardam sempre o melhor para o fim. E o fim de Domingo era uma luxuriante cereja. Tinha chegado a altura de me confrontar com uma das razões do meu, sempre penoso, deslocamento do meu covil. Blissfully Yours de Apichatpong Weerasethakul (também conhecido por Joe!), para muita pena minha, única longa programada deste cineasta tailandês (tem mais duas).
Poucos, muito poucos, saberão aliar sensualidade e experimentalismo em imagens que entram pelo corpo todo (aliás o conceito de corpo na obra de Joe, de um certo corpo, é absolutamente crucial), ou se quiserem, imagem-Corpo, metamorfoses do(s) corpo(s) numa grande e esplendorosa imagem-Corpo, corpo sem imagem porque em incessantes transformações imanentes. E isto, só um asiático poderia filmar com tamanha serenidade (ele é budista). Desfaçatez estética? Não me parece. Acho que temos homem. Depois de ver o resto do seus trabalhos presentes no Festival, e tentar visionar as outras duas longas-metragens, provavelmente, escreverei, aqui, um texto mais cuidado sobre o Joe. Até agora, o melhor que o festival ofereceu a um bulímico como eu.

Segunda: Começou a competição internacional, a espaços interessante ao que se seguiu uma sessão especialmente dedicada a curtas e vídeos musicais do sueco Jonas Odell, para bandas como Goldfrapp ou Franz Ferdinand. Pas mal.


P.S. Hoje, por razões que não me são alheias, não pude comparecer, mas volto amanhã porque o dia começa em grande, com uma masterclass do Joe.