Montag, Juli 10, 2006

Vila do Conde, capital da arte cinemática


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Três dias passados e o 14º Curtas de Vila do Conde'06 - Festival Internacional de Cinema assume-se como um dos mais importantes e atentos "estaleiros de artes visuais" do país e um poderoso catalizador de criação e reflexão das metamorfoses contemporâneas da imagem.
Não é, no entanto, de agora, que o Curtas não se faz só de curtas. A tentativa de estar de olhos postos nas mais interessantes inovações - técnicas e estéticas - sempre serviu de adágio ao longo destes 14 anos, muito para além das curtas. Contudo, nunca essa linha de intervenção se sentiu como no actual programa, onde se desmultiplicam áreas da programação que tocam a longa-metragem e a vídeo-instalação ("Work in Progress"), as inventivas missivas no território do audio-visual, como por exemplo as encomendas do Festival de composições sonoras originais para objectos visuais absolutamente singulares ("Remixed"), e até, uma tentativa pedagógica de fazer entrar na mundividência nacional autores essenciais da contemporaneidade que, pelas razões do costume, têm andado alheados das programações que se vão fazendo. Nada disto é novo, o que é novo é a dimensão que estas tomam. O Curtas tem-se reinventado, portanto. Ano após ano. E nós agradecemos.

Sábado:As actividades foram abertas, oficialmente, no sábado às 18h, com a inauguração, na Solar - Galeria de Arte Cinemática, das instalações, propositadamente feitas para o evento, de Peter Tscherkassky ("Frame by Frame") e Apichatpong Weerasethakul ("Waterfall"). Estes dois nomes constituem dois artistas em foco nesta edição, e ambos estarão presentes para dar uma masterclass cada um (respectivamente, 13 - 14.30; 12 - 14.30) em que poderão falar da sua obra em discurso directo. Os infortúnios de ser a pessoa que sou, fizeram com que não estivesse presente aquando da abertura, o que não é grave já que elas descansam lá à minha espera. Um texto sobre as duas instalações será publicado aqui, possivelmente, no fim do festival.

Atrasado, mas não tanto, já que ainda tive que esperar que ultimassem as três curtas vencedoras do concurso Video Run Restart, concurso que consistiu em colocar alunos das várias escolas de audio-visual do país a captar som e imagem, desenfreadamente, nas primeiras 24h para, nas 24h que se seguiam os mesmos - imagino eu, cheios de sono e boa vontade - finalizassem um objecto fílmico com duração máxima de 3m. Entregues os prémios (dois 1º lugar ex aequo e um 3º lugar) e apresentadas as curtas consagradas apressadamente, depois dos discursos da praxe, começaria então a programação oficial do 14º Curtas com cerca de 30m de atraso.

Deviam bater as 22 horas quando Armando Teixeira (do projecto Bullet) subia ao palco para o primeiro filme-concerto do Festival, Viva la Dance de seu nome. De facto, na base desta actuação estava um certo cinema musical (quando isso ainda não era possível tecnicamente), uma ligação imagem dança som. O alinhamento compreendia 7 registos de pequena duração da década de 20 do século passado. O universo cinematográfico da música de Armando Teixeira parece ter sempre requerido acontecimentos como este e resultou particularmente bem sobre o objecto de Sergei Eisenstein (5º do alinhamento - Mexican Footage), e também no An Optical Poem de Oskar Fischinger e Tarantela de Mary Ellen Bute (6º e 7º, respectivamente), estes sobrevoados por uma electrónica minimal que cria uma dinâmica diferencial imagem/som, vizinha promíscua de imagens muito próximas do abstracionismo e minimalismo pictórico.

Já perto das doze badaladas, e ainda no Auditório Municipal, passaria o primeiro dos três filmes programados de Hou Hsiao Hsien, Millenium Mambo (2001), outro dos cineastas em foco este ano. "Foi há já 10 anos. Era 2001. O mundo inteiro celebrava o novo milénio", abria o filme e lançava tudo para um passado que ainda não aconteceu. O filme, de uma beleza imagética e de um rigor estético típicos da nova vaga de cinema asiático, faz parte de uma segunda fase da obra do cineasta de Taiwan em que o "tempo da juventude" assume a pergunta essencial da suas derivas cinematográficas, depois do acerto de contas com a história, pessoal e colectiva, do solo insular donde partem as suas criações na primeira fase da sua obra. A depuração que põe em cada frame é estonteante. Esperemos, assim pelos outros dois - "Flores de Xangai" (1998), dia 16 às 18h; "Three Times" (2005), dia 15 às 18h.

Ora, depois de tudo isto, que nunca se pense que a maratona chegou ao fim já que a organização, imaginativa como sempre, montou, especialmente para esta semana, um club no piso -3 do parque de estacionamento da Praça José Régio, delirantemente designado de [-3], onde podemos, entre outras coisas, beber até esquecer tudo o que vimos, desfrutar do ambiente agradável que se respira e dançar até os gémeos não aguentarem mais. Quando isso acontecer, tudo pensado pois claro, há uns puffs confortáveis munidos de X-Box. Tudo pelas Curtas, então não.

(continua)

P.S. A partir de hoje e durante toda a semana, para quem não puder deslocar-se a Vila do Conde, o Onda Curta passa filmes premiados de edições anteriores e alguns que vão ser exibidos este ano. Sempre por volta da 00.30. Na 2:.