Montag, Juli 31, 2006

parênteses: patologias

0.114

para I.

"Un millionième de souffrance; deux millièmes d'interrogation; diverses traces de ruse, de cupidité; un dédain dans le nez; une foule de commencements d'émotions diverses armés ou épinglés dans la masque.
Comment où, quand, tout cela s'arrange-t-il?...Le tout, une «jolie femme»."

Paul Valéry, Visage de Dame

parênteses: porque será?

0.113

Porque será que no episódio-piloto de Belgais e Maria João Pires a cobertura foi toda direitinha para o (cito de cor) "sentia-me a viver numa tortura" e não para o infinitamente mais interessante do ponto de vista hermenêutico, "Portugal vive num impasse"?
Justamente.

Donnerstag, Juli 27, 2006

parênteses: promessas

0.112

Para breve, o meu contributo (possível, pela falta de tempo) à investigação levada a cabo pelo Luis Carmelo sobre o Tom dos blogues - intitular-se-á Para uma blogosfera (a)tonal.

Também, a edição de alguns fragmentos sob o título Ângulos Mortos - fragmentos de geometria variável.

parênteses: leituras na última hora

0.111

O Falcão Suspenso, sobre Rapace, grande prémio do 14º Curtas de Vila do Conde.

Caros senhores terroristas, João Pereira Coutinho, versão balnear.

No país do absurdo, por Carlos Leone, a constituição das equipas.

Tragédias de uma guerra intemporal, a carne da História, pelo Luis Carmelo.

e, logo a seguir,

As lealdades em debate, as equipas remodelam-se, contratações no defeso, por Bruno Sena Martins.

e ainda,

Amos Oz, via Miniscente e Timothy Garton Ash, via Avatares de um Desejo.

parênteses: transferências psicóticas

0.110

Tudo o que eu queria ler e não sabia onde estava.
Curiosamente, fui encontrá-lo na estante de cima, junto do Sade.

Montag, Juli 24, 2006

parênteses: assine aqui, por favor (act.)

0.109

Um pouco de honestidade na Cultura não faz mal a ninguém.

Se não estiver convencido, leia aqui.

E ainda , alguns estudos interessantes, compendiados n'O melhor anjo.

Samstag, Juli 22, 2006

parênteses: "carpe diem? que se foda Horácio."

0.108

Li, não sei onde nem quando, que a desilusão é uma forma de elegância.
Isto, claro, se tivermos força suficiente para a elevar a objecto artístico.
E eu hoje não estou para tal.

Donnerstag, Juli 20, 2006

parênteses: transferências psicóticas


0.107

Foi com um sorriso cúmplice, que ouvi o Scorcese, no documentário realizado e narrado por ele sobre o neo-realismo italiano - "A minha viagem a Itália" -, confessar a admiração e influência consequente do "I Vitelloni" de Fellini. Um inútil será sempre um inútil.

parênteses: transferências psicóticas

0.106



"Em tempos de, como Heidegger diz, ausência-de-pensamento, é reconfortante encontrar de súbito alguém, ainda por cima num meio especialmente vocacionado para a ausência-de-pensamento como a TV, a interrogar-se em voz alta e a falar de beleza, alegria, serenidade, amor, humor, a propósito de coisas perplexas e surpreendentes como partículas e leis físicas, vida e morte, o «Andante sostenuto» da sonata D 960 de Schubert por Radu Lupu e os «Corvos» de Van Gogh, biologia e neurobiologia, acaso e necessidade...
E descobrir seres humanos como nós (Jane Goodall, Steven Weinberg, Ed Witten, Yehudi Menuhin, George Steiner, Ashkenazy, Coetzee, Appel, Stephen Jay Gould, Germaine Greer...), que, por momentos, nos devolvem a esperança: talvez afinal, quem sabe?, não sejamos inteiramente miseráveis.
O programa chama-se «Of beauty and consolation» e passa a horas mortas na SIC, quando a Direcção de Programas não tem mais nada para pôr no ar, antes das televendas e entre anúncios de cervejas, de toques de telemóveis e de astrólogos. Mas muitas grandes descobertas, como dizia ontem Leon Lederman, fazem-se «às três da manhã, e por acaso»...E(privilégios da insónia) as noites de alguns «happy few» tornam-se melhores que os dias de quase toda a gente."

[Manuel António Pina, Beleza e consolação, na sua coluna do JN, Por outras palavras - 19.07.06. Os sublinhados são da minha responsabilidade.]

Dienstag, Juli 18, 2006

parênteses: sms búdico

0.105

Recebo um sms que versa assim: "O Hegel tinha razão, o Hegel tinha razão, o Hegel tinha razão... (todos os dias o repito para mim)".
Será que funciona como um mantra?

Montag, Juli 17, 2006

Vila do Conde, capital da arte cinemática: photomatons

o.101.5

o espaço, o jardim, as flores e a fauna

a imagem e o som, a teoria e a prática, mas sobretudo o diálogo

o calor, um sorriso à beira mar, a brisa e o sal nos pés (e a inquietação na garganta)

um miúdo a dizer que tinha "sol na boca"

Vila do Conde, capital da arte cinemática: a película dos dias

0.101.4

O pior inimigo foi o cansaço e o calor. Mesmo assim, quando há compagnons de route à altura custa muito menos.

Quarta e Quinta valeram pelas excelentes masterclasses dadas por Apichatpong Weerasethakul e Peter Tscherkassky, respectivamente. Foram momentos de exposição, fundamentação e (auto/hetero) reflexão sobre o trabalho dos dois nomes, já seguros, a que o Festival deu um enfoque especial. O dia de Quinta iria acabar muito bem, no entanto, com o filme-concerto interpretado por Carlos Bica e DJ Illvibe a exceder as expectativas. A noite acabou, claro está, no piso [-3] do parque de estacionamento da Praça José Régio.

Sexta foi um dia suculento. Embora sem a presença de Hou Hsiao Hsien, por motivos profissionais (começou já a rodar o próximo filme), já que sairam das sessões da tarde e noite, das competições nacionais e internacionais, 4 vencedores. As minhas escolhas coincidiram com as do júri em 3: Melhor Filme Documental - Quelques miettes pour les oiseaux ; Melhor Filme Experimental - Resonating Surfaces ; e Prémio VIP/Vila do Conde - By the kiss.
Antes de me descalçar e sentir a areia e o sal, ainda me refresquei na Solar - Galeria de Arte Cinemática com Waterfall do Joe e Frame By Frame de Tscherkassky, e vi a sessão das 18h (Work in Progress) que contava com uma selecção de curtas deste último e uma de Man Ray, mostrando assim uma filiação do seu trabalho mais recente.

Sábado, com o aroma a premiados no ar, valeu pela sesta, pelo Three Times de Hou Hsiao Hsien, pelas curtas do Joe (A. Weerasethakul), e pelo magnífico, repito magnífico, filme-concerto levado a cabo pelos Dead Combo, a fechar a secção Remixed. O DJ Kitten foi o convidado para arrasar com os corpos que ainda resistiam ao fim de uma semana. Podemos dizer que foi bem sucedido em tão espinhosa empresa.

parênteses: at the meanwhile

0.104

Abraço ao Luis Carmelo pelo aniversário.
Que tão ilustre casa tenha o favor dos deuses e as benesses do oráculo.

Donnerstag, Juli 13, 2006

Vila do Conde, capital da arte cinemática: Apichatpong Weerasethakul

0.101.3




Dienstag, Juli 11, 2006

Vila do Conde, capital da arte cinemática

0.101.2





Domingo: Num espaço de curtas, este dia foi totalmente preenchido por longas. E que longas.
Primeiro a opção acertada da organização de começar o Domingo às 16h. A noite no [-3] não foi fácil, se assim o podemos dizer. Depois, começar com Fascination de Mike Hoolboom, fazendo o Sábado continuar num Domingo solarengo à beira rio. O próprio Hoolboom caracterizou este filme como um "metabiopic", exercício próximo do documentário sobre Colin Campbell, pioneiro da vídeo-arte e ícone da comunidade drag. A dada altura recordei-me de Nan Goldin, não deve ter sido por acaso. Este filme retrata uma época de efervescência artística na vida de Campbell e traça linhas de compreensão daquilo que muito mais tarde viria a tornar-se essencial: Guerra Fria, televisão, memórias do séc. XX, ruínas. Subversão.

Seguidamente passaria A Perfect Day da dupla libanesa Khalil Joreige e Joana Hadjithomas. Filme de tensão, tensional, que começa como se acabássemos de fazer 200 metros de respiração ofegante. Depois de 15 anos do desaparecimento de um homem ele é dado como morto. Aceitação de um fim, fechamento de uma porta. Recomeço. Sobre cinzas.

Parece-me, que são gulosos, Aliás, como eu. Ando sempre com falta de açúcar. E, portanto, estrategicamente, guardam sempre o melhor para o fim. E o fim de Domingo era uma luxuriante cereja. Tinha chegado a altura de me confrontar com uma das razões do meu, sempre penoso, deslocamento do meu covil. Blissfully Yours de Apichatpong Weerasethakul (também conhecido por Joe!), para muita pena minha, única longa programada deste cineasta tailandês (tem mais duas).
Poucos, muito poucos, saberão aliar sensualidade e experimentalismo em imagens que entram pelo corpo todo (aliás o conceito de corpo na obra de Joe, de um certo corpo, é absolutamente crucial), ou se quiserem, imagem-Corpo, metamorfoses do(s) corpo(s) numa grande e esplendorosa imagem-Corpo, corpo sem imagem porque em incessantes transformações imanentes. E isto, só um asiático poderia filmar com tamanha serenidade (ele é budista). Desfaçatez estética? Não me parece. Acho que temos homem. Depois de ver o resto do seus trabalhos presentes no Festival, e tentar visionar as outras duas longas-metragens, provavelmente, escreverei, aqui, um texto mais cuidado sobre o Joe. Até agora, o melhor que o festival ofereceu a um bulímico como eu.

Segunda: Começou a competição internacional, a espaços interessante ao que se seguiu uma sessão especialmente dedicada a curtas e vídeos musicais do sueco Jonas Odell, para bandas como Goldfrapp ou Franz Ferdinand. Pas mal.


P.S. Hoje, por razões que não me são alheias, não pude comparecer, mas volto amanhã porque o dia começa em grande, com uma masterclass do Joe.

Montag, Juli 10, 2006

Vila do Conde, capital da arte cinemática


0.101.1



Três dias passados e o 14º Curtas de Vila do Conde'06 - Festival Internacional de Cinema assume-se como um dos mais importantes e atentos "estaleiros de artes visuais" do país e um poderoso catalizador de criação e reflexão das metamorfoses contemporâneas da imagem.
Não é, no entanto, de agora, que o Curtas não se faz só de curtas. A tentativa de estar de olhos postos nas mais interessantes inovações - técnicas e estéticas - sempre serviu de adágio ao longo destes 14 anos, muito para além das curtas. Contudo, nunca essa linha de intervenção se sentiu como no actual programa, onde se desmultiplicam áreas da programação que tocam a longa-metragem e a vídeo-instalação ("Work in Progress"), as inventivas missivas no território do audio-visual, como por exemplo as encomendas do Festival de composições sonoras originais para objectos visuais absolutamente singulares ("Remixed"), e até, uma tentativa pedagógica de fazer entrar na mundividência nacional autores essenciais da contemporaneidade que, pelas razões do costume, têm andado alheados das programações que se vão fazendo. Nada disto é novo, o que é novo é a dimensão que estas tomam. O Curtas tem-se reinventado, portanto. Ano após ano. E nós agradecemos.

Sábado:As actividades foram abertas, oficialmente, no sábado às 18h, com a inauguração, na Solar - Galeria de Arte Cinemática, das instalações, propositadamente feitas para o evento, de Peter Tscherkassky ("Frame by Frame") e Apichatpong Weerasethakul ("Waterfall"). Estes dois nomes constituem dois artistas em foco nesta edição, e ambos estarão presentes para dar uma masterclass cada um (respectivamente, 13 - 14.30; 12 - 14.30) em que poderão falar da sua obra em discurso directo. Os infortúnios de ser a pessoa que sou, fizeram com que não estivesse presente aquando da abertura, o que não é grave já que elas descansam lá à minha espera. Um texto sobre as duas instalações será publicado aqui, possivelmente, no fim do festival.

Atrasado, mas não tanto, já que ainda tive que esperar que ultimassem as três curtas vencedoras do concurso Video Run Restart, concurso que consistiu em colocar alunos das várias escolas de audio-visual do país a captar som e imagem, desenfreadamente, nas primeiras 24h para, nas 24h que se seguiam os mesmos - imagino eu, cheios de sono e boa vontade - finalizassem um objecto fílmico com duração máxima de 3m. Entregues os prémios (dois 1º lugar ex aequo e um 3º lugar) e apresentadas as curtas consagradas apressadamente, depois dos discursos da praxe, começaria então a programação oficial do 14º Curtas com cerca de 30m de atraso.

Deviam bater as 22 horas quando Armando Teixeira (do projecto Bullet) subia ao palco para o primeiro filme-concerto do Festival, Viva la Dance de seu nome. De facto, na base desta actuação estava um certo cinema musical (quando isso ainda não era possível tecnicamente), uma ligação imagem dança som. O alinhamento compreendia 7 registos de pequena duração da década de 20 do século passado. O universo cinematográfico da música de Armando Teixeira parece ter sempre requerido acontecimentos como este e resultou particularmente bem sobre o objecto de Sergei Eisenstein (5º do alinhamento - Mexican Footage), e também no An Optical Poem de Oskar Fischinger e Tarantela de Mary Ellen Bute (6º e 7º, respectivamente), estes sobrevoados por uma electrónica minimal que cria uma dinâmica diferencial imagem/som, vizinha promíscua de imagens muito próximas do abstracionismo e minimalismo pictórico.

Já perto das doze badaladas, e ainda no Auditório Municipal, passaria o primeiro dos três filmes programados de Hou Hsiao Hsien, Millenium Mambo (2001), outro dos cineastas em foco este ano. "Foi há já 10 anos. Era 2001. O mundo inteiro celebrava o novo milénio", abria o filme e lançava tudo para um passado que ainda não aconteceu. O filme, de uma beleza imagética e de um rigor estético típicos da nova vaga de cinema asiático, faz parte de uma segunda fase da obra do cineasta de Taiwan em que o "tempo da juventude" assume a pergunta essencial da suas derivas cinematográficas, depois do acerto de contas com a história, pessoal e colectiva, do solo insular donde partem as suas criações na primeira fase da sua obra. A depuração que põe em cada frame é estonteante. Esperemos, assim pelos outros dois - "Flores de Xangai" (1998), dia 16 às 18h; "Three Times" (2005), dia 15 às 18h.

Ora, depois de tudo isto, que nunca se pense que a maratona chegou ao fim já que a organização, imaginativa como sempre, montou, especialmente para esta semana, um club no piso -3 do parque de estacionamento da Praça José Régio, delirantemente designado de [-3], onde podemos, entre outras coisas, beber até esquecer tudo o que vimos, desfrutar do ambiente agradável que se respira e dançar até os gémeos não aguentarem mais. Quando isso acontecer, tudo pensado pois claro, há uns puffs confortáveis munidos de X-Box. Tudo pelas Curtas, então não.

(continua)

P.S. A partir de hoje e durante toda a semana, para quem não puder deslocar-se a Vila do Conde, o Onda Curta passa filmes premiados de edições anteriores e alguns que vão ser exibidos este ano. Sempre por volta da 00.30. Na 2:.


Donnerstag, Juli 06, 2006

epígrafes: já agora

0.103

"Tente outra vez, falha melhor."

S. Beckett

parênteses: outros desafios

0.91.2

Resumo do jogo: eles marcaram, nós não. Voilà tout.

parênteses: nomenclatura periódica

0.102

Tem dias em que pode dar jeito.

Sonntag, Juli 02, 2006

parênteses: Vila do Conde, capital da arte cinemática


0.101

Recebo convite para comparecer ao 14º Festival de Curtas-Metragens de Vila do Conde.

Consulto a programação global dos eventos e a coisa promete.
Se conseguir acompanhar extensivamente prometo cobertura aqui.

[na imagem, Peter Tscherkassky (1983), artista com especial destaque na edição deste ano]

parênteses: do dilema de Sainte-Beuve

0.100

Ao centésimo parênteses denota-se que vivo bem mais que o que trabalho, ou, se quiserem, a percentagem de vida que influi no meu trabalho.