epígrafes (possível série em gestação)

0.77

Há anos que cultivo a arte da epígrafe.
Fazer meticuloso e paciente, pode dizer (quase) tudo do texto que inicia. Que orienta.
No melhor dos casos torna-se parte integrante, visceral, do texto, absolutamente consanguínea.
Donde uma não menos paciente leitura das epígrafes dos outros. Ao ponto de dizer "mostra-me as tuas epígrafes, dir-te-ei quem és".

Nestes casos o savoir faire obriga a começar por mim próprio. Seja. Exponho-me nas duas que figurarão numa intervenção que (re)trabalho neste momento para um encontro em terras anglófonas (portanto, hostis a este tipo de execuções).
O Enforcamento de Ariadne, de seu nome.

"Penser?...Penser! c'est perdre le fil."

Paul Valéry, Cahier B 1910*

"Ce qu'il récuse en Thésée, ce le fil:

«Que nous importe votre chemin qui

monte, votre fil qui mène dehors, qui

mène au bonheur et à la vertu...Vous

voulez nous sauver à l'aide de ce fil?

Et nous, nous vous prions instament:

pendez-vous à ce fil!» "

Gilles Deleuze, Logique du sens**

*Valéry, P. OEuvres, II, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard, Paris, 1960, p. 579

**Deleuze, G. Logique du sens, Éd. Minuit, Paris, 1969, p. 153

parênteses: haja alguém!

0.76

O melhor texto, o mais lúcido, sobre o acontecimento Carrilho.
Assina António Guerreiro.
No Estado Civil.
O pragmatismo tem destas coisas.

duelo ao amanhecer

0.75

Arma escolhida: ironia estóica.

Cannes' 06: só me sai disto

0.74

E eu que até tinha grande parte do júri em boa conta.

a ver vamos se é desta

0.73

Não vi porque a hora do coffe & cigarrettes é sagrada, como já sabem. Mas pelo que se disse correu bem. Folgo em saber. Até porque a responsabilidade barthesiana assim o exige. Vou ver se fico atento.

segunda-feira, ou o retorno do padeiro: Heidegger e Chillida, encore une fois

0.72.2

último aforismo de El límite y el espacio*:

"O diálogo, limpo e nítido, que se produz entre a matéria e o espaço, a maravilha desse diálogo no limite, creio que numa parte importante se deve a que, se quiserdes, o espaço é uma matéria muito rápida, ou por outro lado, a matéria é um espaço muito lento. Não será o limite uma fronteira não só entre densidades mas também entre velocidades?"



*Eduardo Chillida in Symposium Chillida (ed. Barañano, K. M.ª), Donosti, 1992. A tradução é minha.


[na imagem, Eduardo Chillida, Sin título, Gravitación ( papel / cuerda / tinta) 80 x 96 cm. 1991]

Heidegger e Chillida, encore

0.72.1

Sétimo aforismo de El límite y el espacio*:

em uma linha o mundo se une
com uma linha o mundo se divide
desenhar é belo e colossal.



*Eduardo Chillida in Symposium Chillida (ed. Barañano, K. M.ª), Donosti, 1992. A tradução é minha.

[na imagem, Chillida, Homenagem a Heidegger, 1994]

Heidegger (Aristóteles, um amigo) e o padeiro

0.72

Traduzo, toda a noite, delicioso pequeno texto (Die Kunst und der Raum) para amigo necessitado. De modo nenhum, facilitar-lhe-à a vida. Ou as arquitecturas.

Levanto-me para me certificar, em velhos cadernos, como hei-de grafar o velho Aristóteles, e reparo que o dia nasce.

Hoje não espero pelo padeiro.


Deixo-vos o segundo parágrafo:

"O que a escultura forma plasticamente, são corpos. A sua massa, consistindo em diversos materiais, é formulada multiplamente. A formulação tem lugar numa delimitação, que é inclusão e exclusão em relação a um limite. Desta maneira, o espaço entra em jogo. Ele é ocupado pela forma plástica, recebe a sua marca como volume fechado, volume atravessado de aberturas e volume vazio. Estado de coisas bem conhecido, e contudo repleto de enigmas."

Cannes' 06: outros olhos, o mesmo

0.71

Leio em e-mail amigo que, até ver, Babel, de Alejandro Gonzalez Iñarritu, é o único filme apresentado que merece a pompa da Croisette.
Engraçado é ter de ser um mexicano a fazer da ferida filme (isto é, perceber os problemas da contemporaneidade) e vir apresentá-lo à auto-denominada nata da Cultura. A europa (cada vez mais em minúscula) desp(ed)ida de si mesma.

coffee (and cigarettes) things

0.70

Apercebo-me, lapidarmente, que aquilo que me resta de uma educação católica é o diário momento sagrado do café e dos cigarros. Imanência glorificada.

parênteses: circunstâncias

0.69

Hoje estou assim.





[Nan GOLDIN, Anthony By The Sea, 1979, cibachrome, 101.2 x 76.2 cm,Collection Lambert, Avignon.]

ressaca e metafísica: anúncio

0.68

Procura-se menina bem intencionada para lugar de Jeanne Balibar na minha vida.
Não sou flor que se cheire ( se bem que depende das alergias). Acordo tardíssimo.
Não precisa de debater metafísica (mas há dias e dias) e rápido aprende a fazer vodka martini's.
Exotismos faciais são sempre bem vindos.
Dá-se preferência à experiência em lidar com casos perdidos.

ressaca e metafísica: vodka martini

0.67

Uma das razões para o atraso crónico de qualquer texto que me tenha que sair das mãos (e entranhas) é uma coisa chamada vodka martini. No entanto, no atraso é que está a depuração, que ocupa o tempo, coagulado, da ressaca. Provocada por aquele, claro está.

Ingredientes:

60% de vodka
40% de martini ( dry vermouth)
azeitona ou limão

Preparação:

Gelo no shaker, vodka e martini (as doses aconselhadas acima podem variar bastante consoante o gosto). Agitar q.b. Verter para copo, preferencialmente gelado. Adicionar uma azeitona verde ou uma rodela de limão.

Nota sobre a tese "shaken, not stirred":

Há três diferenças entre o vodka martini - agitado ("shaken") e mexido ("stirred"), que podem fazer com que também passe a preferir a fórmula de Bond. Uma delas é que, quando é agitado, o cocktail fica habitualmente mais gelado do que quando é mexido, uma vez que o gelo teve mais tempo para arrefecer os ingredientes (o facto de se servir bem gelado é o segredo desta bebida). Outra é que o martini agitado contém mais ar, o que permite - dizem os peritos - saborear uma bebida menos agressiva. Finalmente, o acto de agitar faz dissolver mais depressa o vermouth, retirando à bebida aquele sabor oleoso tão característico. Para além destas diferenças, a revista British Medical Journal publicou em 1999 um artigo em que defendia a deixa do súbdito de sua Majestade (se ela sabe o que ele faz ao dinheiro...). Em experiências efectuadas por investigadores da Universidade de Ontario, Canadá, foi verificado que, na sua versão "shaken", as propriedades anti-oxidantes da bebida favorita do agente britânico são realçadas, ajudando a combater a presença no organismo de substâncias oxidantes associadas a doenças cardíacas, enfartes e cataratas. O que os tipos quiseram dizer foi bebam como alarves.

Como nas próximas semanas vou estar ocupado com uma coisa com o título provisório de Note sur une note de Différence et Répétition (título tão provisório como pedante, o qual deve passar, na versão final, a sub-título, para acabar com a provisoriedade e manter o pedantismo) já abasteci o bar cá de casa. Isto é, o BAP nao o recebe tão cedo. Há que beber e escrever. O resto logo se vê.

ressaca e metafísica: la décadanse

0.66

Na ressaca de um fim de semana embriagado tomo café com amigo que me recorda em bom momento a sulfurosa canção La Décadanse, sussurrada a dois entre Gainsbourg e Jane Birkin, e que, de um só golpe, traça um horizonte acizentado à minha volta.
De notar que, quando visionado o clip, despoletou, à l'époque, a moda de uma (déca)danse balanceada menina à frente e de costas abraçada por braço masculino eroticamente pousado sobre o ventre.

método(s)

0.65

No beco de um raciocínio encontrei um "Há coisas."
Era a única coisa que valia a pena ser dita. Perdão, escrita.
E deparei-me com um método. A ponta pende, inevitavelmente, sugando o movimento no seu último lugar. Voilà.


[A ver vamos se é uma série. Bom dia.]

Cannes' 06

0.64

O Festival de Cannes, edição de 2006 começou à coisa de uma hora com a Gala de Abertura e a apresentação ao público em geral de "Da Vinci Code". Ontem em ante-estreia o filme, apresentado a cerca de 2000 jornalistas e críticos, foi, como seria de esperar, completamente apupado. Uma maneira de dizer, bem vindos a Cannes, meus caros.

O júri para a Selecção Oficial em Competição será presidido pelo realizador chinês Wong Kar-Wai (na foto). O que é uma óptima notícia.

Caderno especial do Le Monde, disponível amanhã, tem algumas entrevistas interessantes e o cartaz completo das várias mostras.O mesmo jornal acompanha diariamente os desenvolvimentos das operações na Croisette.

repúdio e mobilização

0.63

Ramin Jahanbegloo, intelectual e professor iraniano, foi preso sem razão aparente no dia 28 de Abril último no aeroporto de Teerão.
Investigador em filosofia política, escreveu sobre modernidade, não-violência e diálogos culturais. Com obras e artigos em persa, francês e inglês, tem estado profundamente empenhado no diálogo político e no processo democrático.

As últimas informações podem ser aqui acompanhadas.
Para subscrever a petição mandem e-mail para a Revista Esprit.

o tratamento da memória

0.62

"O caso português, a trinta anos do 25 de Abril, já pode ser visto com outra distanciação, embora a regra da geração viva, ainda implicar que a ditadura de Salazar e Caetano não pode ser tratada apenas como pura história, e implicar um sentimento de respeito e reparação com as suas vítimas. Mas , a trinta anos do fim da ditadura, seria mais eficaz quer para a memória, quer para a história, quer para a recusa, perceber que o seu equilíbrio se faz cada vez mais pela história e que esta é a forma mais segura de fazer respeitar ou condenar o que merece ser respeitado e condenado."

Ler na íntegra.

metabloguismo

0.61

Ao que me pude aperceber a série O "tom" dos blogues foi do que mais interessante se escreveu - na e sobre a blogosfera - durante esta semana de festividades. Merece leitura atenta. Voltarei ao assunto. Obviamente.

[Ver também, a "higienização da cultura" no MI, e "O desejo segundo Italo Calvino" no Vestigia Lectionis , 40-42.]

malas desfeitas

0.60

Ao 8º dia volto (ao trabalho).
A seu tempo editarei os resultados - se é que há algum - das deambulações fantasmáticas da última semana.

ponto de situação

0.59

Je m'en fous pas mal, isto é, nada de novo no reino dos afonsinhos.

um post de luto

0.58

Notícia necrológica do local da cremação do dito:
o Blog da Moda foi desmantelado.
Última aparição pública neste blog.
Continuem atentos que ele vai voltar ao local do crime.