Freitag, Juni 30, 2006

parênteses: outros desafios (act.)

0.91.1

A Alemanha na máxima força contra a Argentina.

P.S.: De volta, a meia-final que sempre quis. E possivelmente o derradeiro confronto da "vontade de sistema" bávara com a deriva poiética atlântico-mediterrânica.

P.S. 2: Curioso é, também, apercebermo-nos, à medida que isto avança e aquece, do quase geral contágio da blogosfera pela bola. Lusas.

epígrafes: noli me tangere

0.99

a todas as pessoas que não sei tocar

"Je ne sais rien faire de mes mains. Ni dessiner ni peindre, cela va sans dire, ni modeler ni sculpter. Pas même tenir, pas même verser, pas même poser, caresser un peu, écrire à peine. J'ai le toucher cassant: brise-fer."

Malabou, Catherine. "Gré" in Critique (nº636), Minuit, Paris, 2000

Donnerstag, Juni 29, 2006

metabloguismo (e o "pathos" do fragmento) II

0.98

Não é a primeira vez que cito aqui João Barrento (aliás, também nessa altura com implicações neste assunto), e não me é difícil fazê-lo já que é das poucas penas que ainda vale a pena ler na imprensa portuguesa (e não só, evidentemente).
Escrevia ele a 29 de Abril no seu Escrito a Lápis (Público/Mil Folhas): "Parece haver em toda a modernidade (que, nisto, se prolonga sem cesuras pela pós-modernidade), um fascínio particular, e explicável, pela expressão fragmentária." E, no parágrafo seguinte apercebia-se "ainda melhor de como o fragmento é intrinsecamente moderno (ou, talvez melhor, a modernidade intrinsecamente fragmentária[...]".

Isto a propósito do pathos fragmentário da escrita blogosférica. E pathos, justamente, porque de paixão se trata, afecção, encontro colossal, intensidade expressiva: "Enquanto o aforismo é uma forma que radica na convicção, o fragmento romântico (como hoje, os "pequenos tratados" de Pascal Quignard) é fruto da paixão". De facto, neste texto, Barrento tratava de uma figura absolutamente singular neste contexto - Novalis - e como, o seu esculpir desta forma estética marcava os alvores da modernidade. Ora, em Novalis, os fragmentos são carregados de uma qualidade seminal (o volume que Barrento preparou intitula-se, apropriadamente "Fragmentos são Sementes") donde brota aquilo que silenciosamente se transporta.

No entanto, no primeiro Romantismo alemão em geral, e em Novalis em particular, o fragmento ainda se reporta a uma "totalidade" por um mecanismo dialéctico, pretendendo "ser a expressão da irrepresentabilidade do todo, mas ao mesmo tempo da sua possibilidade de apreensão indirecta". Era a crença na "força sintética da unidade absoluta" da geração de Iena, que o Idealismo vai converter numa "vontade de sistema".

Contudo, não é, pois, necessário ter lido a Athenaeum, para perceber que é impensável, hoje, compreender a operatoriedade e poética do fragmento a partir desta mundividência. Aliás, o fragmento potencia-se a si mesmo, e sobrevive (na blogosfera ou noutro lado qualquer), na justa medida em que escapa a este binarismo primário das letras clássicas (mesmo se, no seu surgimento fosse a mais audaz revolução literária), e adquire uma posição exterior, em que prima por ser, antes de tudo, uma expressão da singularidade (nem universal, nem particular; nem genérica, nem específica). Sem mais. Nem menos.

Dienstag, Juni 27, 2006

metabloguismo (e ainda)

0.97

Quanto ao mais ambicioso projecto metabloguítico da bloga lusa, sei que tem fim à vista.
Posto isto, esperarei pela sua conclusão para, então, expor algumas perguntas latentes originadas de núcleos duros da argumentação de Luis Carmelo. O corpo, o principium individuationis, as inflexões do tempo na escrita blogosférica, etc., serão alguns dos objectos das missivas. Só pelo gozo de colaborar. Até lá continuo a leitura.


P.S. Quanto à polémica deste Verão (na expressão de Carlos Leone), achei por bem ainda não me pronunciar. Anda muita irascibilidade à tona.

metabloguismo (e o "pathos" do fragmento)

0.96

Num texto excelente, de clareza e intuição, Pacheco Pereira (P.P.) faz como que uma arqueologia da escrita blogosférica citando o pathos do fragmento em autores como Nietzsche, Valéry, Cioran e Camus.

De facto, a proximidade de uma escrita inexoravelmente marcada pelo tempo é estonteante. No entanto, parece-me, sendo eu leitor atento de todos os escribas que P.P. chama para junto de si para termo de comparação neste ardiloso exercício, que entre o citado "post curto" da contemporaneidade blogosférica e os aforismos de Nietzsche ou Cioran, os diários de Camus ou mesmo o mouvement de la pensée dos Cahiers de Valéry existe uma diferença operatória, a saber, nunca os segundos têm como é constitutivo do primeiro o fantasma do presente como módulo de tempo ideal de leitura. Justamente, em casos em que isso é mais patente como em Nietzsche e Valéry (e até o fabuloso Quignard), a "exigência fragmentária" (Blanchot) advém da tentativa de fuga a esse estabelecimento do tempo a partir do presente, pedra de toque dos maiores empreendimentos intelectuais no séc. XX, fossem eles filosóficos ou literários (outra bela questão que estes casos paradigmáticos ajudam a aprofundar e complexificar).

É, então, como se a arqueologia feita por P.P. estivesse, paradoxalmente, na vanguarda dos blogues, já que continuou (é uma velha e subterrânea linhagem) a perfuração de um espaço fora do esquema representacional da metafísica clássica, ao mesmo tempo que investiga as possibilidades de constituição desse mesmo espaço.

Montag, Juni 26, 2006

parênteses: mais logo, agora não

0.95

Mais logo, haverá actualizações sobre isto, aquilo e o costume.
Agora, manda o hábito, coffee & cigarettes time. E o monge obedece.

parênteses: deadlines


0.94

Desculpem-me de, nestes dias, nem ter conseguido manter os serviços mínimos.


[na imagem, Karl Spitzweg, Der Bücherwurm (Rato de Biblioteca)]

Dienstag, Juni 20, 2006

parênteses: auto-portrait

0.93

O pathos da etimologia mais não é que a outra face de uma desconfiança radical em relação à linguagem.

parênteses: auto-portrait

0.92

"Je suis un court-circuiteur. J'aime mettre côte à côte deux choses qui s'enflamment."

Pascal Quignard, entretien avec Catherine Argand in Lire

Montag, Juni 19, 2006

Phutebolum Philosophicum

0.91

Mas que grande jogo.


*Carinhosamente roubado ao Abrupto, ainda à gargalhada.

Samstag, Juni 17, 2006

metabloguismo

0.90

A seguir de perto a continuação (ad infinitum?) do "tom dos blogues".
Ver, também, última contribuição do Abrupto.
Mais uma vez, espero ter tempo para contribuir. Lá para inícios de Julho.

parênteses: serviço público

0.89

Estive as últimas horas postrado em frente à 2:.
Um ataque de preguicite nebulosa (acontece-me às vezes) e um zapping ocasional levou-me a cair em cima, para começo de letargia, duma homenagem, merecidíssima diga-se, a David Mourão-Ferreira. Ficarão, pois, palavras de lava. Com certeza. Já li também, homenagens sinceras por essa blogosfera fora.

Seguidamente, e sem me dar hipótese de esboçar uma reacção que fosse, principiava o Câmara Clara, o novo magazine semanal de cultura da 2:, dinamizado por Paula Moura Pinheiro (que sabe estar, falar e interromper, enfim safa-se pas mal), e que, para gozo doméstico deste vosso escriba, nao é simplesmente um debitar de novidades no universo cultural, mas organiza-se em torno de um tema, com convidados bem escolhidos (ao que sei, desde a primeira emissão a esta que visionei), potenciando assim, uma conversa escorreita e bem servida. Como disse a própria apresentadora, que sirva de aperitivo. Já não era nada mau. O tema era particularmente interessante e tratava das promíscuas ligações entre Arte e Política no decorrer do séc. XX.

E, assim, só como quem não quer a coisa, logo a seguir dinamitavam no ecrã o filme O Declínio do Império Americano. Já tinha visto, mas não resisti ao humor, se bem que na fórmula está ainda uns bons passos atrás do cinema da Agnès Jaoui. Não se pode ter tudo. Continuamos nos aperitivos, portanto.

Sem me ter apercebido de nada tinha chegado a hora do último episódio de um documentário que passou ao longo de toda a semana sobre a vida de Álvaro Cunhal (que segui fielmente, dado ainda não ter tido tempo para ler os volumes do camarada Pacheco Pereira). Notável empresa esta, optimamente conduzida e não pior documentada.

Uma noite de aperitivos desta categoria não é todos os dias que é patrocinada pelo Estado.
Que é como quem diz, raramente a televisão pública cumpre os seus desígnios tal como o fez hoje.

Aperitivo por aperitivo, vou fazer mais um vodka-martini, para depois passar ao prato principal. Back to work, entenda-se.

Freitag, Juni 16, 2006

parênteses: auto-portrait


0.88



Retirei, levemente, o olhar.

Já lá não estavas.

Dienstag, Juni 13, 2006

parênteses: lapsus linguae digesta

0.87

Ao escrever co-organizou o corrector automático do Word sublinha a vermelho do alto da sua sageza. Alternativas propostas: codornizes.
Com um Taittinger Brut bem fresquinho, não dizia que não.

Montag, Juni 12, 2006

parênteses: o peixe e a caçarola

0.86

"Je suis dans mon cerveau comme le poisson versé vif à la casserole. Ma nature me fait bouillir."

Paul Valéry, Cahiers, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard, Paris

ordem de trabalhos


08.1

Estão já disponíveis as informações necessárias sobre The Work of Gilles Deleuze Conference.
Inclui desde os abstracts a formas de lá chegar. English management, pois então.
Por sinal, aquilo é bem bonito. Se aparecerem podemos sempre ir beber um copo para um qualquer club de Bristol.
É dia 1 de Julho, portanto, se calhar, é melhor escrever a porra do texto. Digo eu.

Sonntag, Juni 11, 2006

yeux bleus, cheveux noirs

0.85

Reparo que, na cabeceira de um dos mais jovens membros cá de casa, repousa o Olhos azuis, cabelos negros da insidiosa Duras.
Sorrio, perfidamente, não sem alguma perplexidade.
O objecto do desejo deve, com certeza, corresponder à descrição.
Uma biblioteca pode ser maçã dos mais espantosos pecados capitais.

ressaca e metafísica

0.84

Depois das caipirinhas, Duns Scot, Espinoza, Nietzsche e Deleuze.
Não necessariamente por esta ordem.
E "dói-me a cabeça e o mundo".

Donnerstag, Juni 08, 2006

coffee (and cigarettes) things

0.83

Hoje perguntaram-me, do alto de uma obscenidade lacunar, o que desejava.
Notem, não é uma pergunta obscena, é a pergunta que está na origem de qualquer obscenidade.

Como está uma noite quente, deixar entrar o luar no quarto de uma mão que fuma, e enquanto leio, a menina sonha ritmadamente, respondi.


[Ora, como nem menina nem Quignard, o princípio de realidade fez das suas. E temos este post. Freud explica.]

parênteses: o que se impõe


0.82

Já sei. É ritual. Sem pressas. Silenciosamente. Ele aguarda.
Sempre que um amigo parte (partindo nós com ele) é com estas páginas que durmo.
Que sorrio. Nocturnamente.

"Nous devons renoncer à connaître ceux à qui nous lie quelque chose d’essentiel ; je veux dire, nous devons les accueillir dans le rapport avec l’inconnu où ils nous accueillent, nous aussi, dans notre éloignement. L’amitié, ce rapport sans dépendance, sans épisode et où entre cependant toute la simplicité de la vie, passe par la reconnaissance de l’étrangeté commune qui ne nous permet pas de parler de nos amis, mais seulement de leur parler, non d’en faire un thème de conversations (ou d’articles), mais le mouvement de l’entente où, nous parlant, ils réservent, même dans la plus grande familiarité, la distance infinie, cette séparation fondamentale à partir de laquelle ce qui sépare devient rapport." *


*Maurice Blanchot in L'Amitié, Gallimard, Paris, 1971

Montag, Juni 05, 2006

Mexia e Malevitch: a metafísica do erro

0.81

No que respeita ao post anterior, a que só posso voltar agora dado que o fim de semana foi complicado, parece que foi mais uma daquelas situações em que o horizonte de leitura é maior que o texto entre mãos (se bem que neste caso o problema era, justamente, o da ausência desse mesmo texto).

Com toda uma tradução, ainda mais muito ciosa de si, podemos analisar casos absolutamente deslumbrantes de criações de primeira linha que resultaram de meros erros. Exactamente, singelos e colossais erros.

Cito só um, porque a noite cavalga com intensidade e prontidão. E porque de alguma maneira nos diz respeito. Sartre, Jean-Paul, leitor da fenomenologia alemã nos idos de 30 e 40, principal receptor, com E. Levinas, dessa corrente em França, traduz-me, o estupor, o conceito axial da primeira fase do pensamento heideggeriano, a saber da-sein (esse mesmo que figura no título desta espelunca), por realité humaine. Vejam bem. E não se atrevam a pensar que era por falta de leitura ou por parcos recursos germanísticos. Nada disso. Ele sabia muito bem o que fazia, logo ele, e a demonstrá-lo está o escrito de Berlim de nome La Transcendance de l'Ego. Ora, este erro, crasso, despoleta, só, uma coisa que muito mais tarde ficaria conhecida como o Existencialismo. (Estou a abreviar, claro está.)

Voltando à vidinha. Sexta-feira, mesmo antes de sair, deparo-me com quatro (!) posts no Estado Civil (os mesmos de que faço os links no post anterior - outra metáfora falhada: links que não vão dar a lado nenhum...) em branco. Pensamento instantâneo: O Pedro Mexia acabou de inscrever blogosféricamente a impossibilidade de postar. Quatro vezes seguidas. Porra.

Tudo o resto é história, e, ao que parece, tudo não passou de um erro técnico do blogger, pela parte dele, e de um erro metafísico (portanto, metatécnico), pela minha interpretação do dito acontecimento. Não obstante, isto servir-me-á para qualquer coisa. Foi uma coisa que aprendi: é preciso aproveitar os erros ao máximo. Pode sempre ser o mote à contribuição ao problema do tom (ou da falta dele) que muito boa gente tem preocupado.

Eu cá já só quero que esta ressaca passe.

Freitag, Juni 02, 2006

Mexia e Malevitch: post branco sob fundo branco

0.80

Mas o que é isto? Teremos nós esgotado (já) as possibilidades do suporte post?

[série 2006-06-01, em versões 1, 2, 3 e 4]

Voltarei ao assunto, de certeza absoluta.

Donnerstag, Juni 01, 2006

parênteses: olfactos canídeos

0.79

Fico a saber, há pouco, que sou senhor de faro muito peculiar.
Não me atrevi a perguntar.

parênteses: problemas de metafísica pura

0.78

Por exemplo, caso bicudo.
P.: Como é que se deita fora um pacote de leite c/ chocolate?
R.: Pacote no saco azul, palheta no saco amarelo.

abstract

08.
Dans la progression intellectuelle de Deleuze on voit deux fils, en apparence, absolument incompatibles : l’ontologique et le transcendantal.
Quand on cherche où ses deux approches parallèles se rencontrent – le champ de bataille même de la philosophie deleuzienne – on s’aperçoit que ça se passe dans le développement d’une «même » idée : "le champ transcendantal" (Logique du sens), "le plan d’immanence" (Mille Plateaux ; Qu’est-ce que la philosophie ?).
Or, la mise en question du concept d’immanence fait surgir une pensée de l’expérience ; mais d’une expérience qui dégage dans son concrétude ses propres conditions de possibilité – ici le débat est, clairement avec Kant – c’est-à-dire, un renouvellement du propos de l’esthétique transcendantal. La recherche d’une esthétique empirico-transcendantal, pour parler à la manière de Deleuze.
Il s’agit, donc, dans ce papier, d’essayer comprendre le rôle, essentiel, du laboratoire esthétique – notamment le livre sur la peinture de Francis Bacon et les deux volumes sur le Cinéma – dans cet mise en question, radical, des conditions de la pensée elle-même, donc de la destruction de l’image dogmatique de la pensée.